Lewis Hamilton no GP da Hungria em 2020 - Getty Images
Michael Schumacher no GP de Suzuka em 2002 - Getty Images
Lewis Hamilton no GP da Hungria em 2020 - Getty Images
Michael Schumacher no GP de Suzuka em 2002 - Getty Images
O que nos faz seguir? Quais caminhos trilhar, quais rumos devemos tomar. Uma bandeira quadriculada indica o ponto de chegada, mas ela não significa o fim de uma etapa. As fotos de que ilustram esta reportagem relembram as chegadas e os momentos históricos que elas proporcionaram dentro da Fórmula 1. Elas nos guiam a um passado de glórias, onde cada pedaço de pneu desgastado conta um pouquinho de várias jornadas e de como elas foram ganhando contornos e detalhes durante toda a sua trajetória. Antes da bandeirada final de Lewis Hamilton, no Grande Prêmio da Hungria em 2020, o que aconteceu na pista? As arquibancadas vazias têm quais significados sob os olhos de hoje? E de ontem? E no futuro? O estouro de um champanhe e o sorriso de felicidade no rosto de um outro heptacampeão, Michael Schumacher, significou o que mais de dez anos depois, em 2013? E na bandeira hasteada com o próprio braço, no carro sob as cores que foram eternizadas na lembrança do mundo inteiro, qual sentimento Ayrton Senna ainda desperta naquela foto da sua última vitória na categoria que o consagrou? Parte dessas histórias são contadas pelas mãos de profissionais que, ao longo dos anos, emprestam o seu mais puro talento para registrar momentos únicos que passaram diante dos seus olhos e você, talvez, nem tenha percebido. Eternizar, registrar, contar, fazer jornalismo.
Ao longo do tempo, esse foi o jornalismo que soube se reinventar na mesma proporção em que novas tecnologias foram ganhando espaços. Assim mesmo, no plural. Na mesma medida em que foi potencializando a mensagem, agilizando a forma como consumimos e recebemos a informação. Em outras palavras, foi como um motor de propulsão. E ela pode chegar de diferentes formas. Entre o aumento da indústria automotiva, uma das mais importantes no crescimento do país na primeira metade do século XX, com intenso consumo na segunda metade do mesmo período, e o amor do brasileiro por carros, sempre esteve a paixão pela velocidade. É impossível dissociar os assuntos. Apesar de estarem em núcleos separados, afinal, um fã de Fórmula 1 não necessariamente é um conhecedor de automobilismo, um está ligado ao outro em profundas mudanças na forma de se comunicar e encantar o público. Estar ligado nos roncos dos motores, seja de um carro popular ou de um carro de Fórmula 1, é estar diante de máquinas voadoras que rasgam as pistas nas mesmas curvas em que o jornalismo capta, de forma perene, suas transformações.
Dos extensos jornais aos rápidos podcasts, cruzando as detalhadas revistas e batendo roda com uma nova forma de criação de conteúdo audiovisual. O que o jornalismo esportivo e automotivo ainda tem para contribuir? Qual o ponto de partida e o ponto de chegada nessa jornada? O último capítulo desta série provoca o leitor em uma reflexão sobre o que já foi e o que ainda pode ser feito. Porque na viseira só há um caminho: o horizonte.
Consumir informações sobre automobilismo no Brasil era uma tarefa difícil, tendo em vista que publicações do ramo já eram consolidadas fora do país. Muito disso tem uma explicação simples, não havia uma demanda considerável para esse tipo de produto. Tanto de carros, que eram quase que exclusividade de uma elite custosa no país, quanto de espaço na imprensa. A pioneira a desbravar e conversar com esse público foi a Revista de Automóveis, em 1911. A publicação, mensal, trazia em sua capa modelos clássicos que faziam a cabeça e o sonho de consumo de uma época de intensas transformações. A indústria automotiva brasileira só de desenvolveu a partir da instalação de uma fábrica de produção em 1919. No centro de São Paulo, ouvir os veículos modelo T, da Ford, sendo finalizados no chão de fábrica era a música que embalava o início de uma relação próxima entre os brasileiros e o carro. Nos anos seguintes, publicações como a do Automóvel Club, em 1925, expandiram a cobertura e a forma de explicar diferentes ângulos e aspectos dessas máquinas. Muitas das características presentes nas folhas amareladas dessas revistas clássicas podemos perceber, até os dias atuais, na imprensa automotiva. Os detalhes técnicos e precisos de desempenho, as informações de melhoras de performance e durabilidade, requisitos essenciais para a utilização e, claro, inúmeros anúncios de produtos e serviços pensados para carros, são o recheio de uma volta ao passado, onde os motores ainda estavam sendo aquecidos para o desenvolvimento.
Com a chegada dos anos 50, e o desenvolvimento e expansão da indústria nacional, novos títulos surgem para uma demanda em franco crescimento. A republicação da Revista de Automóveis, em 1954, a criação da Quatro Rodas, em 1960 e da Autoesporte, em 1964, são os melhores exemplos de uma época de ouro que acelerava no ritmo do consumo. Dentro dessa enorme gama de produtos pensados para apaixonados por carros e produzidos por especialistas em velocidade, ainda temos o clássico Jornal do Carro, criado a partir de uma coluna dentro do extinto Jornal da Tarde, incorporado ao jornal O Estado de São Paulo. Nos dias atuais, além da versão impressa e digital, a cobertura é realizada também via redes sociais, em perfis especializados no YouTube e Instagram.
O sucesso da indústria automobilística, somado ao crescimento da cobertura do tema na mídia brasileira, necessariamente está enraizada na forma como o público percebeu e consumiu essas informações ao longo dos anos. O estilo mais técnico e específico, com detalhes, gráficos e tabelas para quem possuía um automóvel na garagem pode ter, assim como acontece em nichos específicos, afastado o grande público dessa evolução ao longo dos anos. É importante ressaltar que isso não significa que a categoria não tenha ganhado cada dia mais adeptos, mas que eles ficaram restritos a um grupo quase que restrito, porém numeroso. É como você entrar dentro do carro, ligar o rádio, fechar os vidros e escutar a sua música sozinho, enquanto todos ao seu redor estão seguindo as suas vidas, fazendo as mais diferentes coisas. Parte da quebra desse muro veio com a televisão, em programas específicos sobre carros desde os anos 70. Mais recentemente, mas nem tão recente assim, na principal emissora do país, a TV Globo, o programa que antecedia as principais etapas da Fórmula 1 era justamente um programa sobre automobilismo. Derivado da tradicional revista homônima e publicada pelo mesmo grupo de mídia, o Auto Esporte na televisão se especializou em testes e reportagens ágeis. A linguagem, que deixou de ser técnica para se aproximar de um público de TV aberta fez o programa completar 22 anos de existência, com espaço fixo garantido nas manhãs de domingo.
Ayrton Senna na última vitória da carreira, no GP da Austrália em 1993 (AFP)
Felipe Massa no GP do Brasil em 2006 - Getty Images
Rubens Barrichello no GP da Itália em 2009 - Motorsport Images
O jornalista Fred Sabino pode dizer que tem o trabalho dos sonhos de infância. Ele tem o sangue das pistas correndo nas veias e se apaixonou por automobilismo acompanhando competições na televisão ao lado do avô. Folheando a revista Grid, uma das mais importantes no final dos anos 80, com encartes especiais e uma coluna assinada por Reginaldo Leme, contando detalhes da temporada, logo descobriu a vocação pela comunicação. Curiosamente, Leme é seu colega de trabalho há pelo menos dez anos.
Carioca raiz, ele cresceu em uma época em que o Grande Prêmio do Brasil era o principal evento da Cidade Maravilhosa. Época também de intensas transformações naquela que é chamada, até hoje, de era de ouro da categoria. A rivalidade, nas pistas e nos boxes, garantiu a popularidade dos pilotos e um capítulo especial na história, arrastando fãs pelo mundo todo. Mas se engana quem acha que os limites de Fórmula 1 foram suficientes para ele. Completando duas décadas dentro da cobertura esportiva, Sabino acompanhou as diferentes transformações do jornalismo em inúmeras redações. A carreira, iniciada no impresso, logo foi para o digital, cruzando mais tarde nos caminhos da TV.
O acesso difícil ao Autódromo de Jacarepaguá, na zona oeste da cidade, não foi impedimento para que o jornalista descobrisse a paixão pela velocidade no mesmo ritmo em que crescia a cobertura das mídias de massa. Foi pela TV que o brasileiro, assim como Sabino, confirmou de vez que automobilismo também era a nossa praia. Para ele, o contato profissional com a Fórmula 1 aconteceu dentro do jornal Lance!, onde foi editor e o responsável pelo núcleo de esportes a motor do diário. A experiência o levou para a TV, onde participou da cobertura de grandes eventos como a própria Fórmula 1, as categorias abaixo como Fórmula 2 e Fórmula 3, além de disputas tradicionais do automobilismo como Fórmula Indy, Nascar e a Stock Car. Como produtor e editor do Grupo Globo, participou de mais de mais de 200 transmissões no SporTV, além de editar o blog F1 Memória, uma das principais fontes de informação sobre automobilismo da imprensa brasileira. No post de despedida, em 2021, o jornalista fez questão de salientar sua paixão pela modalidade que abraçou, relembrando a infância ao lado de máquinas voadoras. Atualmente, como editor-executivo de automobilismo do Grupo Bandeirantes, é um dos responsáveis por manter ligado o motor que aquece o coração dos brasileiros nas manhãs de domingo.
Sabino faz um panorama do que é a categoria hoje em dia. "A Fórmula 1 finalmente se abriu às redes sociais, e essa atitude, por si própria, já trouxe novos fãs, dado perfil mais jovem desse público. Além disso, o incremento dos canais digitais da própria categoria e a série da Netflix consolidam essa tendência", diz. Essa é a primeira geração de pilotos totalmente conectada às plataformas de mídias sociais, com liberdade absoluta para a proximidade direta com fãs no mundo todo. A relação com os ídolos explica o sucesso fora das pistas. Com uma popularidade intrinsecamente ligada a uma geração que começou a acompanhar Fórmula 1 sem antes ter assistido uma única corrida, são nos games para consoles ou em séries populares como a F1: Drive to Survive, da Netflix, a porta de entrada dos jovens para um mundo novo no automobilismo. O vasto material disponibilizado na internet por pilotos e equipes contribuíram para a popularização da Fórmula 1 entre os mais jovens, aproximando o público da categoria, tornando-a acessível para diferentes faixas etárias.
Mas nem tudo é um pit stop perfeito. O ambiente cada vez mais agressivo dentro das redes, que reverbera no trabalho da imprensa dentro da rede social, serve de alerta vermelho para uma mudança coletiva. "A rede social tem o lado bom de trazer o público para mais perto dos bastidores da Fórmula 1. Por outro lado, a falta de educação de alguns internautas e as hostilidades vistas nas redes atrapalha esse processo. Ninguém precisa concordar com tudo o que é publicado pelos jornalistas, desde que com respeito", avalia. "Infelizmente, em qualquer área da sociedade, as redes lamentavelmente têm uma parcela de pessoas desprovidas de educação e senso coletivo, sem contar os crimes cometidos como racismo, homofobia e sexismo. É algo que precisa ser combatido pelas próprias empresas donas das redes e os governos, que precisam endurecer as leis e eliminar esses indivíduos, além de responsabilizar criminalmente quem cometer esses atos", completa.
Conversar com um público segmentado pode parecer um desafio que assusta diferentes redações. Segundo o jornalista, a adoção de gêneros textuais específicos, para atingir grupos heterogêneos, é a peça-chave para uma maior abrangência, sem deixar de lado a responsabilidade com a credibilidade e o compromisso com a informação, papel desempenhado pelo jornalismo profissional. "O aumento da quantidade de veículos independentes, sobretudo na internet, proporciona uma circulação maior e mais rápida das informações, o que deixa sempre a Fórmula 1 em evidência. Por outro lado, há um aumento também na circulação de boatos, principalmente de pessoas que não acompanham o dia a dia da Fórmula 1 e por vezes publicam informações sem a devida checagem. Mas penso que é um processo que terá uma acomodação nos próximos anos", completa.
A massificação de apenas um gênero de disputa automobilística tem, em grande parte, responsabilidade na ocupação dos espaços que o futebol deixou entre as décadas de 70 e 90. Do tri, com Pelé no México, ao tetra, com Romário nos Estados Unidos, pilotos brasileiros fizeram história nas pistas, virando heróis em uma época em que o país carecia de ídolos. Para o jornalista, a falta de interesse em outras categorias faz o público perder grandes disputas para priorizar a Fórmula 1, algo imperdoável para uma geração acostumada ao fácil acesso à informação. Isso explica o brasileiro amar tantos pilotos estrangeiros em uma categoria que já dominou? "Penso que é devido à ausência de ídolos na categoria principal, que é a Fórmula 1. O Brasil não tem sequer um representante regular no grid desde 2017, isso é muito tempo. Mas outros países já passaram por essa entressafra, como a Itália, a França e a Alemanha. A própria Holanda só foi descobrir de fato a Fórmula 1 com Max Verstappen", explica. O atual bicampeão nasceu na Bélgica, mas é cidadão holandês, bandeira que escolheu defender na Fórmula 1. O óleo de motor é tradição na família, já que é filho de ex-pilotos. Seu pai, Jos Verstappen, disputou oito temporadas de Fórmula 1 entre os anos 90 e 2000. Já a mãe, Sophie, fez carreira em corridas de kart na Bélgica e na Holanda.
Para Sabino, a comunicação rápida dos novos tempos aproximou o público, facilitando também o trabalho da imprensa na obtenção de informações, principalmente nos contatos com as fontes. Sabino entende o poder das redes sociais na transformação da relação Fórmula 1 hoje em dia, mas não vê perspectivas em apostas maiores em pautas levantadas pelos novos fãs. "Há ações de conscientização e campanhas sendo feitas para melhorar a questão da representatividade, por exemplo. Mas não vejo chance de haver uma ação efetiva para baratear os preços dos ingressos, dado que a Fórmula 1 é um evento premium e faz questão de ser vista assim", conclui.
José Carlos Pace no GP Brasil em 1975 - Getty Images
Emerson Fittipaldi no GP da Grã-Bretanha em 1975 - ESPN
O volante pode ser o play que te faz transportar a um futuro onde o conteúdo é consumido na mesma velocidade de um pit stop. Ou nem tanto. Talvez aumentar a velocidade de reprodução do vídeo esteja intrinsecamente ligada a pisar no acelerador dos carros mais rápidos do mundo. Em um mundo cada vez mais conectado para um público cada vez mais jovem, estar ligado nas transformações é entender como uma mensagem pode ser transformada na rapidez do mundo digital.
Considerada fechada por muito tempo, uma mudança radical ligou gerações aos boxes de equipes tradicionais como parte de um movimento transformador. O nome de Bernie Ecclestone, um dos maiores nomes dos bastidores da Fórmula 1, quase não foi citado dentro dessa série de reportagens. O foco aqui, foi o fã, o profissional e a mais apaixonada voz que traduz os novos movimentos da categoria. Do ambulante na porta do autódromo ao CEO que tem no marketing absoluto a sua fonte de sucesso, todos tem a sua extrema importância na imensa roda que move a Fórmula 1 em mais de 72 anos. Mas não podemos falar sobre mudança na forma de se comunicar sem entender a proporcionalidade de Ecclestone em seus tempos de mandatário. O modelo de negócios criado por ele é exemplo de como um esporte se transformou em uma verdadeira máquina de fazer dinheiro. Mas o foco aqui é entender como isso trouxe uma legião de novos adeptos para um esporte distante da realidade de muitos. E a explicação está nas mídias. Se antes, o poderoso Bernie e seus auxiliares provocaram uma revolução e transformaram a categoria no que ela é, hoje temos nas mídias sociais, e na abertura e conversa com o público mais jovem, uma nova etapa de uma história que ultrapassou barreiras.
Em 2017, após ser comprada pelo grupo americano Liberty Media, a Fórmula 1 praticamente saiu do modo analógico para encabeçar de vez uma mudança no digital. Não foram poucas as vezes que até as redes sociais dos pilotos eram proibidas no paddock. A justificativa era de que aquele movimento tirava o foco entre as corridas. Com o passar dos anos, é praticamente impossível estar inserido em um mundo sem utilizar as redes sociais para a proximidade com público e fãs e isso foi entendido como nenhuma outra categoria esportiva. No mesmo ano da aquisição, uma pesquisa divulgada pela Formula One Management (FOM), hoje conhecida como Formula One Group, o grupo de empresas que promovem a Fórmula 1 ao lado da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), mostrou que o crescimento da marca esportiva nas redes sociais superou gigantes do ramo como Adidas, Puma e Nike, e até mesmo outras competições populares como a Champions League, a NFL e a Nascar.
Partindo para esse ramo, é possível hoje entender as diferentes nuances de um mesmo carro de Fórmula 1. E tudo graças a um clique de distância. Não é preciso dar muitas voltas em plataformas de vídeos para entender que esse é um fenômeno potente que encanta e se expande à medida em que as disputas nas pistas ficam acirradas. A nova fonte de informação para todos os fãs de Fórmula 1 passa também por canais dedicados exclusivamente a comentários, análises e informações em tempo real que inserem o espectador em um ambiente de conteúdos variados. No F1 na Mochila, o youtuber Herllon Ramos desbrava as pistas do mundo todo "em busca da corrida perfeita". Com mais de 50 mil inscritos, ele supre uma demanda que tem aumentado entre a audiência: o de experiências dentro da Fórmula 1. No mais famoso deles, os comentários críticos e vivências de Herllon durante o Grande Prêmio da França em 2022 alcançou mais de 30 mil visualizações. No F1 Rádios Brasil, os comentários de pilotos e equipes, dentro da comunicação interna e compartilhados pela transmissão, ganham uma análise especial da equipe responsável pela página. Desde a criação, em agosto de 2018, o canal acumula mais de 16 milhões de visualizações em seus vídeos. A imprensa especializada em jornalismo automotivo e seus jornalistas marcam presença nesses locais, suprindo uma necessidade de levar o jornalismo profissional onde o seu público está. Sites como o Grande Prêmio e o Motorsport Brasil, além do projeto AutoMotor, criado e mantido por Reginaldo Leme, ultrapassaram a casa dos cem mil inscritos. É dessa forma, ocupando espaços, que a comunicação é aliada ao bom jornalismo que não apenas comenta, mas apura e tem responsabilidades sobre aquilo que se publica.
Para Tiago Mendonça, um dos mais importantes jornalistas esportivos e especializado em esportes automotor, tem lugar para todo mundo nas novas mídias. "Um complementa o outro. O jornalismo também tem mídias sociais muito fortes e, especificamente o YouTube, não funciona no formato “concorrência”, pelo contrário. Se você assistiu a um vídeo sobre automobilismo, ele passa a recomendar outros, de outros canais. Então, ninguém tira, e sim traz audiência um para o outro", explica. "A popularização trouxe um público mais jovem, que é fundamental para atrair novas marcas e sustentar o esporte. Tanto do ponto de vista da categoria, quanto das equipes, que têm maior facilidade agora na busca por patrocínio, por possui uma audiência mais heterogênea, com mais mulheres, com mais jovens. Foi um ganho importante", conclui.
O jornalista Victor Martins, do site Grande Prêmio e dos canais ESPN, diz que é necessário cautela e não apenas olhar os números dessas mídias. "O jornalismo precisa reforçar sua posição como meio de comunicação confiável, apresentando profissionais respeitáveis na produção de conteúdos gerais com análises bem embasadas e verdadeiras, sem se preocupar se o público vai gostar ou não. O jornalismo não pode se medir com contas no TikTok de pseudo-profissionais que vão aos autódromos para tirar fotos com pilotos ou vídeos de oito minutos com fotos de capa inverídicas. Prefiro que os conteúdos do Grande Prêmio gerem menos visualizações ou páginas visitadas do que esta ‘concorrência’ que faz tudo pela atenção e pouco pela informação", critica.
Criadora do canal Elas na Pista, onde fala sobre mulheres e iniciativas que fomentam a presença feminina no esporte, a jornalista Nathalia De Vivo falou sobre a receptividade do público no YouTube. "Eu ainda fico bastante surpresa. Achei que não ia ser bem aceito, ia receber muitas críticas, mas muito pelo contrário. Recebo mensagens muito legais, pessoas dizendo que voltaram a acompanhar automobilismo por causa do canal, que querem aprender sobre as mulheres, dando sugestões e mostrando interesse real sobre o assunto". Foram mais de 770 mil visualizações nos vídeos em pouco mais de 2 anos.
Mais recentemente, a roda de conversa sobre Fórmula 1 ganhou um toque ao pé do ouvido. A popularização dos podcasts e seu rápido consumo conectaram uma geração ávida por novidades e por conhecer detalhes de seu esporte favorito de forma dinâmica e próxima a uma linguagem que aproxima todos os públicos. Os podcasts tornaram-se parte da rotina de um público acostumado a correr, e não somente no sentido amplo empregado nas competições. Dentro das opções variadas, o jornalismo se destaca e não somente sobre a Fórmula 1. Programas de rádio, como CBN Automotor, desdobra-se em análises do mundo automotivo, enquanto o Boletim do Paddock aposta na conversa descontraída e nos comentários como ponto alto das interações. O futuro do jornalismo esportivo e automotivo, que faz a Fórmula 1 o que ela é hoje, está aqui e agora e se perpetua em adaptações como forma de sobressair no grid. As mudanças na maneira de fazer jornalismo esportivo e automotivo mostram, de forma consistente, que a categoria é muito mais atraente do que se imaginava. E a regra é uma só: nunca desligar os motores.
Posição de largada número 1 no Autódromo de Interlagos (Arquivo pessoal)